Nada
mais óbvio do que iniciar esta página com uma introdução; afinal,
para um curioso que passa por estas linhas, o que é uma luta
erótica?
Desde
os primórdios da humanidade lutar mediante o uso da força física,
bruta, foi uma necessidade vital. Quem detinha condições de vitória
melhor, detinha melhores condições de sobreviver e garantir a
sobrevivência do seu grupo. E, pelo determinismo genético, foram os
humanos do sexo masculino aqueles providos das melhores
características, habilidades e pré-disposição para se lançarem
na missão de gladiar. Note que uma missão determinada pela natureza
do homem e não por uma simples deliberação sua!
Dentre
os homens sempre houveram aqueles com capacidades e habilidades
melhores do que os outros, bem como houveram aqueles mais inclinados
para o combate; naturalmente, pelas mesmas necessidades de
sobrevivência e manutenção do grupo, estes homens mais destacados
e providos de maior poder tornaram-se os símbolos e modelos dentro
de sua sociedade, detento o domínio sexual, alimentar e de decisão
sobre o grupo que era mantido por ele.
Este
“homem primitivo” é o que simboliza e modela a psiquê
masculina, ele representa os instintos mais fundamentais das forças
que governam a mente de um homem. É essa sua arquitetura como “homem
animal”. É na busca do seu símbolo perfeito que os homens guiam
sua sexualidade, pois sem se aproximar dele não terá condições de
se perpetuar, de tomar a liderança de seu grupo e das ofertas
sexuais, ou de ser mais aceito e desejado pelo seu próprio grupo,
para cumprir seu papel naquele meio.
Ao
longo dos tempos este “homem primitivo” e seus valores foram
perdendo espaço dentro da civilização, por vezes tendo que serem
castrados para não levarem as sociedades ao caos, assim como as
necessidades primitivas não eram mais alcançadas de modo tão
sofrível. Tornou-se o homem, então, um “homem social”, com
novos valores e anseios dentro deste novo mundo. Contudo, perdeu ele
no meio de sua história seus instintos mais primitivos? A resposta é
não.
Esta
mudança de paradigma na transformação evolucionária da humanidade
possibilitou a existência de um sistema extraordinariamente rico de
criação de culturas, i.e. valores representados em símbolos. Tendo
estes símbolos incorporado de modo direto ou indireto muitos dos
elementos instintivos da mente masculina, possibilitando a grande
maravilha de coexistir dentro de um mesmo ser forças de naturezas
tão opostas e diversificadas, com necessidades tão distintas, porém
convivendo em aparente harmonia e até em complementariedade.
Mas
o que tudo isso tem haver com a luta erótica?
Luta
erótica é qualquer prática de combate ou de desafio onde os homens
permitem que seus instintos primitivos ganhem espaço, que seus
símbolos de masculinidade tomem forma e que, por fim, todos eles
sejam colocados para trabalharem juntos dentro de uma
pseudo-realidade criada para satisfazer a necessidade de externar
todas estas poderosas forças. É erótica porque intrinsecamente
carrega símbolos da masculinidade e, em especial, da liderança e
dominação de um macho sobre todos os demais; e não há meios de
separar a masculinidade da própria sexualidade masculina.
Eis
a razão, talvez, para haver tantas variações tão diferentes das
práticas de lutas. A luta erótica pode ocorrer com ou sem a
atividade de sexo entre os oponentes; pode ocorrer com ou sem
violência física; com ou sem a excitação de um pela masculinidade
do outro, ou a excitação apenas consigo próprio; com ou sem a
prática da luta propriamente dita, remanescendo demais símbolos
presentes dentro do contexto; pode ocorrer de modo mais puro, apenas
o combate, como pode ocorrer de modo mais “carregado” com a
incorporação de variados fetiches ou parafilias; pode ocorrer com
ou sem apostas; pode ocorrer com ou sem público; e tantos outros.
No
presente momento da história é notável como os homens se sentem na
necessidade de buscarem um canal de fuga, um abrigo, um mundo
particular, em que possa vivenciar e descarregar tudo o que seus
instintos lhe cobram implacavelmente; seja através da busca direta
(como a da luta erótica), seja indiretamente através de atividades
em que tais impulsos masculinos tenham sido aculturados. O primeiro
movimento vem ao longo dos anos se mostrando mais forte, pois além
de retomar às raízes e, portanto, às necessidades mais urgentes,
representa de fato uma quebra em todas as correntes culturais
colocadas para sufocar a masculinidade. De certa forma, é o que está
retratado no filme de grande sucesso “Clube da Luta”.
Este
período da história não está sendo dócil para os homens,
aparentemente nada na sociedade parece acomodar bem um símbolo de
masculinidade; e pior, talvez pela primeira vez na história da
humanidade, a masculinidade é preterida para que da feminilidade
tome parte do espaço. Não pode mais o homem tomar a figura do macho
dominador, pois está dominado e acorrentado de todas as formas aos
padrões que foram se solidificam nestas últimas décadas. A busca
por tais práticas de lutas, grupos, agremiações, sociedades, etc.
têm se prestado a vários homens como o canal de fuga de todas as
suas pressões e necessidades interiores.
É
esta a mensagem.